5 Extensões da Cadeia de Markov

5.1 Construção do Modelo

Ideia geral de como começar o processo de modelagem dos dados.

Primeiro defina as hipóteses do processo, suposições para faciliar o tratamento matemático.

Segundo, defina quem é o \(X_n\) se perguntando “O que estou tentando modelar?”.

Terceiro, defina o S e T, o espaço de estados e espaço de parâmetros.

5.2 Passeio aleátorio

Sejam \(\zeta_1, \zeta_2, ...\) VA independentes, de valor inteiro com função de probabilidade f. Seja \(X_n\) a variável aleátoria definida por:

\[X_n = X_0 + \zeta_1 + \zeta_2 + ... + \zeta_n\]

sendo \(X_0\) o valor inicial.

A sequência {\(X_n\), n \(\geq\) 0} é chamado de passeio aleátorio. Pode ser provado que é uma CM com espaço de estados inteiro e função de transição dada por :

\[P(X,Y) = f(y-x)\]

Exemplo 5.1 Suponha que uma particula se movimenta de acordo com essa cadeia. Consideremos o caso especial f(1) = p e f(-1) = q e f(0) = r, com p + q + r = 1.

A função de transição será:

\[\begin{equation} P(x,y) = \left\{\begin{matrix} p & y = x + 1 \\ q & y = x - 1\\ r & y = x \end{matrix}\right. \end{equation}\] Essa cadeia particular é chamada de passeio aleátorio simples, ou passeio do bêbado.

Por exemplo se S = {0,1,2,…}

A matriz de transição fica como segue-se:

0 1 2 3
0 r0 p 0 0
1 q r p 0
2 0 q r p
3 0 0 q r
\(\ddots\)

5.3 Cadeia de Ehrenfest

Paul Ehrenfest nasceu em 18/01/1880 e morreu no dia 25/07/1993. Ele foi um físico teórico alemão que teve suas maiores contribuições feitas no campo da estatística mecânica, mecânica quântica , incluindo o a teoria de fase de transição, e o teorema de Ehrenfest. Referência

O seguinte modelo pode ser utilizado para intercambio de moleculas de um gás entre corpos isolados.

Suponha que temos duas caixas numeradas I e II e d bolas, também numeradas de 1 a b. Inicialmente algumas bolas são colocadas na caixa I e as restantes na caixa II. Um inteiro é selecionado aleatoriamente do conjunto {1,2,…,d} e a bola correspondente a esse número é trocada de caixa. Repete-se esse processo indefinidamente. Com seleções independentes entre os ensaios. Seja \(X_n\): número de bolas na caixa I após a n-esimo ensaio.

Pode ser provado que {\(X_n\), n \(\geq\) 0} é uma cadeia de markov sobre S = {0,1,2,3,…,d} (T={0,1,2,3,…)

Precisamos encontrar a função de transição P(x,y) \(\forall\) (x,y) \(\epsilon\) S, para tal vamos supor que em determinado instante temos x bolas na caixa I. Vemos então que as únicas transições possíveis são:

\[\begin{equation} x \rightarrow x-1 \\ x \rightarrow x + 1 \end{equation}\] \[\begin{equation} P(x,x-1) = \frac{x}{d}\\ P(x,x+1) = \frac{d-x}{d} = 1 - \frac{x}{d} \end{equation}\]

Logo a função de transição é:

\[\begin{equation} P(x,y)\left\{\begin{matrix} \frac{x}{d} &; y = x - 1 \\ \frac{d-x}{d} &; y = x+1\\ 0 &; cc \end{matrix}\right. \end{equation}\]

Matriz de transição.

0 1 2 3 d
0 0 1 0 0 0
1 \(\frac{1}{d}\) 0 \(1 - \frac{1}{d}\) 0 0
2 0 \(\frac{2}{d}\) 0 \(1 - \frac{2}{d}\) 0
3 0 0 0 0 0
0
d 0 0 0 0 1 0

5.4 Ruína do jogador

Suponha que um jogador faz apostas de um dolar por vez, sendo que sua probabilidade de ganhar é p. Seja \(X_0\) o capital inicial do jogador. Suponha ainda que não existe “emprestimo” da banca, ou seja, o jogador deixa de jogar se o seu capital atingir 0, nessa caso diremos que o jogador está arruinado.

Seja \(X_n\) : capital do jogador no instante n:

\[{X_n, n \geq 0} \text{uma CM. sobre {0, 1, 2, ...}}\]

\[\begin{equation} P(x,y )\left\{\begin{matrix} 1-p &, y = x -1\\ p &, y = x + 1\\ 0 &, cc \end{matrix}\right. \end{equation}\]

DEF 5.1 Um estado a \(\epsilon\) S de uma cadeia de Markov será chamado de absorvente se P(a,a) = 1. (ou equivalentemente, P(a,x)=0, \(\forall x \neq a\))

Vamos supor que o jogo seja definido se o ganho do jogador atingir d dolares ele deve abandonar o jogo. Nesse caso, S = { 0,1,2,…,d}

Essa cadeia é chamada “com barreiras absorventes”

5.5 Cadeia de Nascimento e Morte (C N-M)

Considere uma CM sobre S = {0,1,2,…} ou sobre S = {0,1,2,…d} e suponha a seguinte função de transição.

\[\begin{equation} P(x,y)\left\{\begin{matrix} q_x &, y = x -1\\ r_x &, y = x \\ p_x &, y = x + 1 \\ 0 & cc \end{matrix}\right. \end{equation}\]

Sendo \(p_x, q_x, r_x\) inteiros não negativos tal que \(p_x + q_x + r_x = 1\)

A matriz de transição fica:

0 1 2 3 d
0 \(r_0\) \(p_0\) 0 0 0
1 \(q_1\) \(r_1\) \(p_1\) 0 0
2 0 \(q_2\) \(r_2\) \(p_2\) 0
0
d 0 0 0 0 \(q_d\) \(r_d\)

NOTAR: que o passeio aleátorio, a cadeia de Ehrenfest e a ruína do jogador são casos particulares de C N-M.

5.6 Cadeia de Fila

Considere um sistema de serviço em que os clientes chegam e devem esperar por atendimento formando uma fila.

Suponha que se há clientes esperando serviço no inicio de qualquer período de tempo, exatamente um cliente será atendido nesse período (não existe atendimentos simultaneos). E que se não há clientes esperando então ninguém será atendido nesse período.

Seja \(\zeta_n\) o número de novos clientes que chegam durante o período (n-esimo).

Vamos supor que as variáveis aleátorias \(\zeta_1, \zeta_2,... \zeta_n\) são independentes e identicamente distribuidas segundo uma função de probabilidade f.

Seja \(X_0\) o número inicial de clientes e \(X_n\) o número de clientes no sistema até o final do n-esimo período.

Se \(X_n\) = 0, então \(X_n + 1 = \zeta_{n + 1}\)

Se \(X_n \geq 1\), então \(X_n + 1 = X_n + \zeta{n+1} - 1\)

Então {\(X_n, n \geq\)} é uma CM sobre {0,1,2,…} com função de transição

P(x,y) = f(y-x+1) \(x \geq 1\)

P(0,y) = f(y)

5.7 Cadeia de ramificação

Considere objetos tais como particulas de algum tipo ou bacterias que podem gerar novos elementos do mesmo tipo.

O conjunto inicial de objetos será chamado “geração zero”. Os elementos gerados durante o n-esimo tempo serão dito pertencer a (n+1)-esima geração.

Seja \(X_n\) o nº de objetos no n-esima geração, então temos, por exemplo a seguinte situação.

Para modelar essa situação como uma CM vamos supor que cada particula gera \(\zeta\) novas particulas na próxima geração, sendo \(\zeta\) uma VA de valor inteiro não negativo, tendo a função de probabilidade f. Sob essa hipótese {\(X_n\), n \(\geq\) 0} será uma CM cujo o espaço de estados é S = {0,1,2,3,…}.

Notar que 0 é um estado absorvente.

Se a cadeia atingir o estado 0, diremos que ela foi extinta, e um problema muito interessante é determinar a probabilidade de extinção da cadeia.

Para x \(\geq\) 1 a função de transição será:

P(x,y) = P(\(\zeta_1 + \zeta_2 + ... + \zeta_x = y)\)

com os \(\zeta_i\)’s sendo iid com f.d.p e

P(1,y) = f(y), \(y \geq 0\)

DEF 5.2 Seja A um subconjunto de S. Define-se o tempo de chegada (hitting time) em A como:

\(T_A = min\{n \geq 0: X_n \epsilon A\}\), se \(X_n \epsilon A\), para algum n \(\geq\) 0.

DEF 5.3 \(T_A\) = \(\infty\) se \(X_n\) \(\not{\epsilon}\) A, \(\forall\) n > 0.


Ou seja, \(T_A\) é o primeiro indice de \(X_n\) em que a cadeia entra no conjunto A pela primeira vez.

NOTAÇÃO
Quando A = {y}, em lugar de escrever \(T_{{y}}\) vamos apenas escrever \(T_y\).
NOTAÇÃO
Denotaremos por \(P_x\)(A) a probabilidade de A ocorrer quando a CM começou no estado x. Por exemplo, \(P_x\)(\(X_5 = 2\)) ou \(P_0(T_y=3)\) “A probabilidade,saindo de zero a cadeia, atingir o estado y, pelo menos uma vez.”